sábado, 27 de outubro de 2012

Covardia


Eu quero você. Sempre quis, desde o primeiro dia em que nos vimos. Não sei o que foi, mas algo em você me chamou a atenção à primeira vista. Não foi amor, mas sei que foi um tipo de atração bem forte. Muito forte. Mas esse seu jeito que não deixa transparecer o que é de verdade, sempre quieto, calado, no seu canto, me impedia qualquer movimento. Você já me deixou louco, sabia?

Mas não importa mais. Eu quero você. Quero te ter aqui, comigo. Quero dividir, com você, tudo o que guardei pra mim durante esse tempo. Quero que você seja a pessoa que vai me tirar desse mar de mesmice no qual me afundei. Me salve da lama e, com sua boca na minha, me devolva o ar.

Também quero ser o seu salvador. Quero ser aquele que vai te abraçar e dizer que pode durar pra sempre. Quero ser o cara que vai te deixar com vergonha com uma piada boba. Quero ser a companhia que vai te levar ao cinema e acabar com todo o refrigerante. E também aquele que vai brigar pelo chocolate.

Quero que você seja a primeira pessoa com quem eu vá dividir o meu mundo.

Mas eu sou um covarde. Não sei dar o primeiro passo. Preciso de um sinal - uma coisa boba, mas que me faça ter ideia de até onde posso chegar. Eu não quero ultrapassar a fronteira que pode quebrar o que quer que seja isso o que temos agora. Continuo louco.

sábado, 15 de setembro de 2012

Meia-noite, vinte e sete graus


Calor dos infernos. Vinte e sete graus, e já é quase meia-noite. De dia, a sensação deve ter batido uns quarenta, fácil! Essa cidade... o que eu ainda faço aqui? Nasci pra morar em um lugar frio. Em dias comuns e situações normais, eu já suo bastante. Hoje, nem o ventilador ligado direto na minha cara impede o suor de rolar por todos os lugares. Sim, todos.

Eu devia fazer algo mais pra me mudar. Pro sul deste país tropical ou pro norte deste mundo. Pensando bem, mil e quinhentos quilômetros não são suficientes pra me distanciar desse calor; do vazio, da insegurança, da dúvida. Não são o suficiente pra me separar de mim. Fico com o norte. Com o desconhecido.

Preciso de uma nova perspectiva. Preciso olhar pra minha vida de fora. Preciso saber se sou tão bom em analisar meus próprios erros e encontrar soluções, como sou bom em solucionar os problemas dos outros – aparentemente isso só funciona pra mim, mas ainda assim.

Pode parecer que eu sei bem o que estou fazendo, mas não é bem por aí. Geralmente, eu só faço - depois é que penso no que está acontecendo. Eu finjo bem, esse é o segredo - fake it until you make it.

Mas eu preciso de um tempo da minha vida. Preciso respirar até poder encarar tudo isso de novo. Estou exausto desse mesmo ar quente e seco de sempre. Mudanças. É disso que preciso. Em relação a tudo. Preciso mudar de casa, de cidade, de país e continente. Preciso mudar meu jeito de levar as coisas, minhas prioridades, minhas roupas, meu corte de cabelo.

Eu preciso mudar até me redescobrir.

Ou talvez eu só precise de chuva pra poder respirar melhor.

domingo, 19 de agosto de 2012

Pais e Filhos


Eu sempre gostei de crianças. Eu sei que elas podem ser bem chatas, às vezes, especialmente em um determinado período da vida, mas, mesmo assim, eu gosto. Não sei bem o que é... talvez seja a pureza; a ideia de que podem fazer tudo o que quiserem, desprezando os limites bobos da realidade; ou talvez seja pelo fato de que vivem acreditando que o maior mal do mundo é o monstro que vive debaixo da cama, quando os pais não estão por perto.

Esse amor, essa admiração que tenho pelas crianças, chamou a atenção de muita gente por parecer recíproco. Eu sorrio pras crianças e elas, mesmo que nunca me tenham visto, sorriem de volta. Às vezes, os pequenos são os primeiros a sorrir e, contrariando o que normalmente acontece – eles não se importam com convenções ou “normalidades” -, muitas vezes, eles é que mexem comigo, me provocando pra uma brincadeira.

E foi assim que aconteceu com essa garotinha. Um aninho, talvez pouco mais ou menos, ela estava no seu carrinho, olhando, admirada, para toda a gente daquele shopping. Eu passei pela frente dela ao entrar na fila pra comprar o meu lanche, e a olhei. Assim que nossos olhos se encontraram, ela sorriu. Um sorriso lindo, daqueles que desarmam uma alma pesada. Involuntariamente, sorri – pela primeira vez naquele dia - de volta.

Deduzi que os pais dessa criança estavam naquela fila. Três casais e mais algumas pessoas avulsas que poderiam, com toda naturalidade, ser os pais da menina que, só não foi junto, porque o carrinho não passaria por aquele pequeno espaço delimitado pelas faixas. A fila não anda. Uma das atendentes está em treinamento. Isso me irritaria, se a garotinha não tivesse roubado a minha atenção pra si, me fazendo esquecer o motivo pelo qual eu estava sozinho naquele shopping.

“Papa”, ela grita, naquele jeito de quem está aprendendo a falar. A voz soa doce. Ela não está preocupada com nada, não está pedindo atenção. Ela diz isso e continua olhando para os lados, como se fosse só pra exibir suas recém-adquiridas habilidades da fala.

Um dos primeiros garotos da fila, de uns 16 anos, acompanhado daquela que deveria ser sua namorada, olhou para trás, também despreocupado – os pelos da barba que ele tenta deixar crescer nem engrossaram, e ele está gastando o fim da tarde de um sábado no shopping, com a namorada. Quais poderiam ser as suas preocupações? – e fez uma careta para a criança. Normalmente, isso tem o poder de assustar os pequenos. Mas, essa menina era muito calma, e sorriu de volta, e arrancou do garoto um sorriso igualmente lindo em pureza e amor. Efeito cascata, eu também sorri. Mais uma vez.

“Amor, eu vou procurar um lugar para a gente sentar”, foram as palavras da namorada que, agora que vi o rosto, pareceu uma menina de uns quinze anos, ou pouco mais. Ela também tinha um olhar calmo, e eu achei que conhecia aqueles olhos de algum lugar. O rapaz se virou e, ainda sorrindo, disse que tudo bem, numa voz juvenil, mas firme.

A namorada deu a carteira, que guardara na bolsa, ao jovem, e foi saindo. Ao se aproximar de mim, ela disse “vamos, bebê?”, com uma voz carinhosa e levou o carrinho. A criança se virou, e, olhando para cima, sorriu para a menina. Para a mãe. Os olhos da jovem de 15 anos eram os mesmos da criança de um. Quando a menina disse “papa”, mais cedo, o jovem atendeu ao chamado da filha, e brincou com ela.

O garoto, que agora eu via como um grande homem, pagou a conta, fez uma brincadeira com a atendente em treinamento e, ainda com o sorriso que derreteria corações de gelo, partiu, com o lanche, para onde estava a sua família. Provavelmente, os avós da menina os buscariam, mais tarde e, tranquilos, eles iriam para casa cuidar de suas vidas. Aquele homem, aquela mulher, e a filha.

De repente, a noite se iluminou e a pergunta mudou: que problema tenho eu, esse moleque, para estar tão mal-humorado no início da noite de um sábado?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Coleção de pontos finais


Então é isso? Acabou mesmo? Assim? Sem direito a despedida ou últimas palavras? Sem direito a entender em que estrada viramos errado pra que chegássemos até aqui? Sem que eu saiba como é que, em um dia, você está bem do meu lado e no outro... bom, no outro, eu não tenho ideia de onde está ou, nem mesmo, de quem é?

Pelo visto, sim, é isso mesmo.

Mais um. Mais um ponto final daqueles chatos, intrusos, que se enfiam onde bem entendem. Daqueles que dão fim a uma frase ainda.

Ainda inacabada. 


Mais um pra minha coleção que, se fosse de qualquer outra coisa, seria invejável. Mas essa é, e eu não consigo fugir, a minha especialidade.

Minha e da minha mania masoquista de entregar o meu coração às pessoas assim, logo no início: “prazer em conhecê-lo! Aqui vai o meu coração; faça dele o que lhe convir”. Bom, e fazem. O que bem entendem. Quando querem. Eu sei, eu pedi por isso.

Mas, e você? Pensei que fosse fazer diferente; pensei, por um segundo, que meu coração estaria um pouco mais seguro em suas mãos. Que, no fim, quando se cansasse dele – e de mim – o devolveria ao meu peito, e não que o deixaria ao relento e me fizesse buscá-lo, aos cacos. Mas não se preocupe: ele já se quebrou vezes o suficiente pra eu saber que há conserto.

Algo me diz que eu deveria ir atrás, descobrir os motivos e ver se ainda há solução. Mas tem um outro sentimento que me impede. E eu já ignorei esse sentimento uma vez, e essa atitude só me levou até a sua voz fria e desinteressada, ao telefone. Não, isso não é pra mim; tomei uma nova dose de orgulho e, bem ou mal, ela me conforta, pelo menos por agora. Talvez eu tenha dor de cabeça, amanhã. Se bem que eu nem sou de ter ressaca.

Qualquer coisa que aconteça, eu estarei aqui, onde você deixou meu coração, fazendo o possível para remendá-lo, como tantas vezes antes. Você, se sentir a necessidade, pode vir; sabe muito bem como me encontrar. Quando chegar, te mostrarei onde está a sua assinatura: marcada na cicatriz que deixou. E, talvez aí, possamos conversar. Até lá, os efeitos daquela dose já deverão ter passado.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Amoras & amores



Dona Juju gostava das janelas abertas em dias de sol. Clareava o piso ressecado que, em dias frios, trazia um adereço carinhoso: as meias de João que cuidava, nas pontas dos dedos, a curiosidade da chuva que a janela trazia. Seus olhinhos procuravam no céu cinza, sem estrelas cor de leite, essas que se escondem de dia, um presente para a sua infância amarga. Até que, entre os tristes pingos, ele percebeu na casa ao lado, outros olhinhos.

Os outros olhos estavam molhados. Mas não daquela água salgada. Se molharam na chuva que, daquele lado do muro, caía sapeca, brincando com os olhos castanhos, os cabelos longos e os dedinhos dos pés descalços da menina que era doce e sal em equilíbrio, com uma leve pitada de pimenta e sorriso vivo.

Desprendeu em si uma ternura encantada. Nunca vira tantas cores. Era mágico comer com os olhos a textura do querer. O dedo do pé encolheu-se na tentativa de alcançar melhor todo aquele loiro molhado. O canto da boca cedeu um sorriso frouxo e inocente. Parecia feitiço de abracadabra e puft!, caiu da janela de uma forma que nem eu, narrador, entendo.

É claro que não entende! Você não estava do lado de cá do muro e não sabe do que essa menina é capaz. A dança, coordenada com as gotas d’água, que lhe proporcionam esse brilho enigmático, ao som da risada que é pura melodia, calaram a consciência do menino bobo. E ele desejou, mesmo que não soubesse, exatamente, o que era isso. O nome dela é Iara. Isso te diz algo?

Um aroma salgado se espalhava da cozinha ao quartos da casa. Coado o café e adoçado um suco de amora. Dona Juju aprontava-se a chamar João. Um canto alegre e cozido, comedido, anunciando que os bolinhos primavera estavam prontos. Não o encontrou no quarto. Desesperou-se. “Em dias de chuva, não saia de casa, nem mesmo para a área dos fundos ou para a garagem”! No abrir da porta, apressada pela preocupação, encontrou o menino de pedra balançando nas ondas da menina chuva que fechava o inverno.

O menino só observava. Bobo.
A menina dançava e sorria. Sapeca.
E o amor florescia. Potente.

Brunno Falcão & Yago Rodrigues

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Tato

A primeira urgência: o prazer. Fazia um tempo, já. Era hora da satisfação. Será? Todos os pensamentos, todos os passos, os toques, até o roçar do tecido leve do short acariciando as coxas. Tudo era excitação.

Mesmo que a consciência lutasse contra, as mãos hesitantes, se guiando sozinhas no quarto escuro, acharam o seu caminho. Desceram pela rua do pecado e o encontraram. Um toque, um tremor. Desejo. Animal em seus instintos primitivos – imbatível. O coração batendo forte, o pensamento vagando por corpos perfeitos, por retas e curvas nas medidas certas. Homens. Pele e pelos. Nus. No pensamento e na cama, se contemplavam.

As mãos – malditas mãos! -, mais uma vez fizeram o que queriam – elas e a urgência -, e encontraram o lençol, encolhido no canto. Uma volta, um nó. Era selvagem, era excitante, era o máximo. Estava no filme. Parecia bom. Não custa tentar. A dificuldade de respirar ia aumentando à medida que se aproximava da hora final, da satisfação, do gozo.

Na cabeça, tudo se misturava. Imagens de todos aqueles corpos que um dia os olhos encontraram. Os atores, os desconhecidos, os do clube, aqueles da piscina ou do vestiário. Ah, o vestiário! Aqueles da academia, com os corpos suados. Suados como o dele, agora, nesse exercício de puro prazer. Tudo muito rápido, muito urgente. Flashes.

Só mais um pouco, vai. Falta ar, sobra excitação. As mãos agindo com mais segurança, mais força. O nó mais apertado. É agora. É a hora. Mais rápido. Mais forte. Para, tudo para. Um segundo ou uma eternidade. Lapso no tempo e no espaço.

Explosão. Alguns tiros.

Tudo o que resta de oxigênio abandona os pulmões num suspiro. Cai na cama. Lágrimas nos olhos. Porra!, o que foi que eu fiz? Não é assim que as coisas devem ser! Não é assim que... Luzes passeavam pela vista: pequenos pontos brilhantes dançando no ar. Ar. Tenta respirar. Não pode. As mãos cansadas, agora novamente sob o controle do homem, não do animal, alcançam o nó feito pra desatar facilmente. Não desata. O desespero dá sinal. Passeia pelo quarto, junto com os pontos de luz, dançando ao redor da cama com esse sorriso indecente. O corpo se debate sobre os lençóis agora molhados. Suor e sêmen.

A segunda urgência: a vida. Solta! Grita sem voz, sem ar. Mudo. O único som é o da briga abafada entre o corpo e o colchão. Tenta de tudo. Quer desatar o nó, rasgar o lençol, quebrar a cabeceira da cama. Não. Tudo muito bem feito. Excelente qualidade. Coisa de primeira!

As luzes somem e o desespero se enfia no peito, dividindo espaço com o coração que bate apertado e os pulmões que ardem sem ar. O corpo desiste da luta. Relaxa na cama molhada de sêmen, suor e saliva. Silêncio absoluto. O frio se aproxima e envolve o corpo. Olá, sabia que viria. Ela se senta ao pé da cama e observa o corpo nu, inerte. O admira na sua pureza. Na sua indecência. No seu arrependimento.

Tão novo. Tão pouco pelo que se arrepender. Tanto pelo que ainda viver. Achou que fazia a escolha errada, pensava que podia ser diferente e não viu o verdadeiro erro. Sabe, você podia ser feliz. Agora, vem comigo.

O pegou nos braços e saiu pela porta trancada. Passou pelos quartos em que pais e irmãos dormiam calmamente. Saiu pela rua caminhando sob a luz da lua. Finalmente ele estava livre do seu próprio nó. Ao menos a parte que importava. E só precisou do toque das mãos.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Dor de cabeça

Sofro com constantes dores de cabeça, os mais próximos já sabem disso. Mas essas dores não são todas, forçosamente, físicas, daquelas que podem ser resolvidas com um analgésico. Acontece que, quando muita coisa se passa ali dentro, na mesma hora, e os pensamentos não se respeitam, tomando formas absurdas e soltos na dança do caos, é desconfortável, é irritante. É, dói. Nesses casos, a cura pode vir de diversas formas: boa música, uma boa taça de sorvete, um pedaço de chocolate com café quente, um abraço, um sorriso, ou só um tempo pra me acalmar.

Tempo.

Eu estou bem, não precisa se preocupar. Essas dores de cabeça já são parte de mim e eu estou mais do que acostumado a lidar com elas. Um problema mais urgente é como eu permito que todos esses pensamentos me deixem zonzo.

Eu desperdiço.

Eu me gasto.

E gasto os meus sentimentos.

Jogo tudo ao vento.

Eu e aquela minha antiga mania de mergulhar em outras pessoas e me perder lá dentro. Não tem volta. Não há migalha de pão ou rolo de lã que me faça encontrar o caminho de casa. Só saio de lá expulso.

Alguns diriam que é nobre. Eu tenho a tendência de achar, no mínimo, ingrato. Abro mão de mim mesmo pelo outro. Deixo os meus problemas pra lá porque ah, eles nem são tão grandes assim. Dou do meu sangue. Fecho a porta na cara daquela que pode ser a minha felicidade só pra não deixar o vento entrar e te fazer frio. Seguro os espinhos pra que não sintam nada além do aroma da rosa. Deixo de viver o que pode ser prazeroso pra mim porque pode não ser bom pro outro. Deixo de sair para me distrair porque não pode ser nessa noite de indisposição. Saio em outra tumultuada só porque alguém quer dançar. Ouço desabafos e encho de conselhos pra horas depois ver que é complicado e que eu não sei de nada. Em casos extremos, digo que não deve ser assim, mas quem, além de mim, se importa? Eu já tentei mudar, mas é impossível. Clichê dos clichês, eu sou assim. Mas não sou tão altruísta quanto você pode pensar.

Quero dizer, e a minha vez? Eu tento abraçar o mundo, mas e quem me abraça? Quem cuida de mim? Quem vai me deitar no colo numa noite fria e dizer que vai ficar tudo bem? Quem vai me dar um beijo de boa noite no meio da solidão? Quem virá com a luz quando eu me encontrar no meio da escuridão? Quem vai apoiar a minha cabeça e secar minhas lágrimas quando meu peito não puder mais conter o choro? Quem vai me manter em segurança quando o chão parecer abandonar meus pés? Quem é que vai estar aqui pra me segurar quando eu cair? E quem vai me pegar pelas mãos e me forçar a me levantar? Quem vai fazer, por mim, tudo o que eu faço pelos outros?

Amar.

Quem vai me amar desse jeito louco que eu amo?

Às vezes eu só queria um feedback. Saber que todo esse sentimento que derrama do meu peito está sendo sentido por alguém; que está fazendo efeito. Que toda essa dor de cabeça está valendo a pena. Que estou amando da maneira certa. Porque é assim que eu vivo. E preciso saber como continuar a viver.

Enquanto não descubro as respostas, vou continuar aqui, fazendo o que faço de melhor ou a única coisa que realmente faço. Vou caminhar nos labirintos dos peitos daqueles que me conquistaram, fazendo o meu melhor pra manter a ordem. E vou esperando que um dia, em uma esquina qualquer, encontre alguém pra me acompanhar, ou que simplesmente olhem pra baixo e digam “hey, você estava aí esse tempo todo?”.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Mais um ato de escrever

"Escrevo para viver". "Escrevo porque vivo". "Escrevo porque sonho." "Escrevo porque é só o que sei fazer". "Escrevo porque não sei escrever".

Não, nada disso.

Eu escrevo porque choro. Minhas palavras são lágrimas que caem num pedaço em branco de um papel qualquer.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Tudo ou Nada


O céu está escuro. Não sei que horas são. Não sei, nem mesmo, se é dia ou noite. Se fosse noite, eu veria as estrelas, não? E veria a maior delas se fosse dia, certo? Com tantas nuvens pesadas e escuras, não sei. Até mesmo o astro rei poderia ser coberto por elas. Mas o que é que eu sei? Estou perdido no tempo. Estou perdido na vida.

Venta muito. E venta em todas as direções. Assim como para as minhas emoções, a ordem do vento é o caos. E o som da ventania é tudo o que eu escuto. O vento e os meus pensamentos. Esses, não param. Mesmo que eu não queira mais escutá-los, persistem, como o vento, de forma caótica.

Estou à beira do precipício. Às minhas costas, um longo caminho de pedras e espinhos que se perde no horizonte – como cheguei até aqui? Na minha frente, o infinito.  A promessa de tudo ou nada.

Não posso ver o fim da queda. É muito escuro. É muito grande. É infinito. Chutei algumas pedras pra baixo, mas não as ouvi chegando lá – se perderam no meio do caminho. Se é que há um meio naquilo que não tem fim. Não deve haver um fim – buraco negro. Não há nada. Grande nada. Penso em dar um passo pra trás, mas meu corpo não obedece. Mais uma vez, eu me traí.

Fecho os olhos, abro os braços e fico ali - imóvel. De repente, toda a ventania cessa. Tudo para. Deve estar frio, mas eu não sinto frio. Eu não sinto. Nada. Tudo, nesse instante, deixa de importar. Todas as cartas não enviadas, todos os textos mal escritos, todas as palavras não ditas. Os beijos negados, os amores impossíveis, os sorrisos cessados. Os segredos. Tudo é nada. E eu sou um coração que bate debilmente no meio da escuridão.

É agora. Única opção: um passo à frente. A partir daí, dois destinos possíveis: ou caio no nada ou vou para o infinito. Se cair, não sei o que esperar. Não sei se há um chão lá embaixo, uma mão amiga pra me segurar, ou só o inferno. O infinito é só uma promessa. A terra prometida. Talvez eu possa ser feliz, lá. Talvez eu possa, enfim, abrir o meu coração e sentir de novo. Mas a questão, agora, é: eu ainda sei voar?


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

OK


Como estou? Às vezes fazemos essa pergunta mesmo sem querer saber a resposta, não é? Só pra ter por onde começar uma conversa qualquer ou só pra parecer educado. E o que dizer das respostas? Um “bem”, seguido de um sorriso amarelo sai praticamente no automático, sem espaço para pensar, ou sem querer atormentar o outro com seus próprios problemas. Só pra ser educado. Mas, se quer mesmo saber como estou, a verdade é que estou ok. Isso mesmo: ok. Nem mais, nem menos, apenas ok. Como o melão e o seu sabor sem sal, sem pimenta, sem doce suficiente. Ok, e só isso.

O que me confunde, na realidade. Assim como o melão, que não sei se gosto ou desgosto; sou alheio. Quando estou ok, é como se não estivesse vivendo. É como se tudo não passasse de um filme ao qual se vê sem realmente assistir e, no fim, nem mesmo o nome do protagonista fica na memória e você olha as letras brancas subirem na tela negra por um tempo, até perceber que acabou.

E eu me cansei. Sem mais melão, obrigado. Eu quero o picante da malagueta, o doce do puro açúcar, o azedo do limão, o sal do mar, ou mesmo o mais amargo dos sabores. Tem tequila aí? Eu quero sentir intenso. Um sabor ou um soco na cara. Vou dar uma volta nessa montanha-russa. Pagar minha entrada e encarar, sem olhar para trás. Eu quero viver. E não posso me contentar com pouco. Não sei sentir pela metade.