Foi necessário que a chuva –
sempre ela – me despertasse. Na madrugada, acompanhado pela lua encoberta por nuvens e pelas fracas e vacilantes luzes dos postes que iluminam a rua que, da
varanda, com algumas gotículas da chuva mansa me tocando as mãos, lavando toda
a sujeira, ou tocando minha face, se fundindo com as lágrimas que rolavam,
também mansas, foi que eu parei pra pensar. E refletir.
É necessário praticar o desapego.
O que não serve mais, descarte. O que não tem mais nenhuma utilidade, que vá
para o lixo. O que te prende ao passado, deixe passar.
O homem tem a necessidade de
seguir em frente, sempre. Mais rápido ou devagar, mas sempre em frente,
seguindo.
Não é fácil deixar algumas coisas
pra trás. Acredite, eu sei. Amamos demais algumas coisas, algumas situações,
algumas pessoas pra simplesmente deixar pra lá. Mas é necessário, às vezes. E,
no fim, a gente sempre percebe que foi o melhor a se fazer. Precisamos abrir
espaço para o novo. Talvez, tudo o que a felicidade está esperando seja esse
espaço, essa oportunidade.
É necessário desapegar. É necessário
soltar as rédeas, de vez em quando, e deixar a vida tomar o seu próprio rumo. É
necessário deixar a chuva cair. E molhar. É necessário deixar ser.