terça-feira, 26 de abril de 2011

Highway to hell, with love

Naquela segunda, acordaram de manhã, bem cedo. Só estavam com um dos carros, a viagem seria um tanto longa, e não poderiam se atrasar para o trabalho.

Com o despertador, ou beijos e carícias, levantaram-se da cama meio coberta com lençóis brancos - por mais que tentassem o contrário, toda manhã era aquela bagunça - e, juntos, foram para o banho. Fizeram amor sob o chuveiro.

Vestiram-se e desceram as escadas para o café da manhã. Outra coisa com a qual não se acostumavam, era com um desjejum saudável e variado. Tomaram leite ou suco, comeram um pedaço de bolo ou uma maçã. Isso, enquanto corriam atrás de papéis no escritório que lutavam para organizar e realizavam ligações apressadas para uma ou outra secretária. Segunda-feira corrida, essa!

Tudo pronto, saíram de casa e entraram no carro, não sem, antes, cumprimentar o vizinho e a esposa, que saiam na mesma hora, na mesma pressa, e com a simpatia de sempre. Deixaram o condomínio, que fica em um dos limites da cidade, ao som de "Highway to Hell", brincando que aquele dia seria mesmo um inferno. AC/DC continuou tocando durante todo o caminho - o gosto pelo rock era um dos mais fortes pontos que tinham em comum e, juntos, tinham uma coleção invejável de albúns do estilo.

Conversavam amenidades, e a pauta principal era o almoço em família do dia anterior:

- Sua mãe fica cada vez mais linda, hein?

- Ela me disse o mesmo de você. Tenho a impressão de que, se um dia nos separássemos, meus pais não olhariam mais na minha cara, e te adotariam!

A resposta veio acompanhada daquele belo sorriso, sempre elogiado, por quem quer que o visse.

Cerca de vinte minutos depois, chegaram no escritório de advocacia, num bairro chique da capital. Assim que o carro parou, as mãos, como de costume, se encontraram, e veio o comunicado:

- Hoje jantamos fora, tá? Naquele restaurante novo, que você disse querer conhecer.

- Sério? Mas você sai a tempo?

- Sim, sim. Já organizei tudo, e hoje não vou estar de plantão.

- Que lindo! - E o mesmo belo sorriso iluminou o seu rosto. - Te espero, então.

Se beijaram. Um beijo daqueles! Daqueles em que dá pra sentir o amor só de olhar, em que você se sente completo, imortal, amado como nenhum outro ser, jamais, o será, e, mesmo assim, seguiram-se as palavras:

- Eu te amo.

Dr. Samuel, o advogado, desceu do carro sem esperar resposta, com aquele sorriso, ainda mais belo - como se fosse possível - e com a felicidade nos olhos. O dia até poderia ser um inferno, mas ele só sentiria o seu amor, que sabia ser retribuído com todas as forças. Brega? Ele também achou, mas não liga.

Do mesmo modo, Dr. Ian, o médico, seguiu para o consultório, do outro lado da cidade, pensando que, se é assim o inferno, gostaria de queimar por toda a eternidade.