Sofro com constantes dores de cabeça, os mais próximos já sabem disso. Mas essas
dores não são todas, forçosamente, físicas, daquelas que podem ser resolvidas
com um analgésico. Acontece que, quando muita coisa se passa ali dentro, na
mesma hora, e os pensamentos não se respeitam, tomando formas absurdas e soltos
na dança do caos, é desconfortável, é irritante. É, dói. Nesses casos, a cura
pode vir de diversas formas: boa música, uma boa taça de sorvete, um pedaço de
chocolate com café quente, um abraço, um sorriso, ou só um tempo pra me
acalmar.
Tempo.
Eu estou bem, não precisa se preocupar.
Essas dores de cabeça já são parte de mim e eu estou mais do que acostumado a
lidar com elas. Um problema mais urgente é como eu permito que todos esses
pensamentos me deixem zonzo.
Eu desperdiço.
Eu me gasto.
E gasto os meus sentimentos.
Jogo tudo ao vento.
Eu e aquela minha antiga mania de
mergulhar em outras pessoas e me perder lá dentro. Não tem volta. Não há
migalha de pão ou rolo de lã que me faça encontrar o caminho de casa. Só saio
de lá expulso.
Alguns diriam que é nobre. Eu tenho a
tendência de achar, no mínimo, ingrato. Abro mão de mim mesmo pelo outro. Deixo
os meus problemas pra lá porque ah, eles nem são tão grandes assim. Dou do meu
sangue. Fecho a porta na cara daquela que pode ser a minha felicidade só pra
não deixar o vento entrar e te fazer frio. Seguro os espinhos pra que não
sintam nada além do aroma da rosa. Deixo de viver o que pode ser prazeroso pra
mim porque pode não ser bom pro outro. Deixo de sair para me distrair porque
não pode ser nessa noite de indisposição. Saio em outra tumultuada só porque
alguém quer dançar. Ouço desabafos e encho de conselhos pra horas depois ver
que é complicado e que eu não sei de nada. Em casos extremos, digo que não deve
ser assim, mas quem, além de mim, se importa? Eu já tentei mudar, mas é
impossível. Clichê dos clichês, eu sou assim. Mas não sou tão altruísta quanto
você pode pensar.
Quero dizer, e a minha vez? Eu tento
abraçar o mundo, mas e quem me abraça? Quem cuida de mim? Quem vai me deitar no
colo numa noite fria e dizer que vai ficar tudo bem? Quem vai me dar um beijo
de boa noite no meio da solidão? Quem virá com a luz quando eu me encontrar no
meio da escuridão? Quem vai apoiar a minha cabeça e secar minhas lágrimas
quando meu peito não puder mais conter o choro? Quem vai me manter em segurança
quando o chão parecer abandonar meus pés? Quem é que vai estar aqui pra me
segurar quando eu cair? E quem vai me pegar pelas mãos e me forçar a me
levantar? Quem vai fazer, por mim, tudo o que eu faço pelos outros?
Amar.
Quem vai me amar desse jeito louco que
eu amo?
Às vezes eu só queria um feedback. Saber
que todo esse sentimento que derrama do meu peito está sendo sentido por
alguém; que está fazendo efeito. Que toda essa dor de cabeça está valendo a
pena. Que estou amando da maneira certa. Porque é assim que eu vivo. E preciso
saber como continuar a viver.
Enquanto não descubro as respostas, vou
continuar aqui, fazendo o que faço de melhor ou a única coisa que realmente
faço. Vou caminhar nos labirintos dos peitos daqueles que me conquistaram,
fazendo o meu melhor pra manter a ordem. E vou esperando que um dia, em uma
esquina qualquer, encontre alguém pra me acompanhar, ou que simplesmente olhem
pra baixo e digam “hey, você estava aí esse tempo todo?”.