Calor dos infernos. Vinte e sete
graus, e já é quase meia-noite. De dia, a sensação deve ter batido uns
quarenta, fácil! Essa cidade... o que eu ainda faço aqui? Nasci pra morar em um
lugar frio. Em dias comuns e situações normais, eu já suo bastante. Hoje, nem o
ventilador ligado direto na minha cara impede o suor de rolar por todos os
lugares. Sim, todos.
Eu devia fazer algo mais pra
me mudar. Pro sul deste país tropical ou pro norte deste mundo. Pensando bem,
mil e quinhentos quilômetros não são suficientes pra me distanciar desse calor;
do vazio, da insegurança, da dúvida. Não são o suficiente pra me separar de
mim. Fico com o norte. Com o desconhecido.
Preciso de uma nova
perspectiva. Preciso olhar pra minha vida de fora. Preciso saber se sou tão bom
em analisar meus próprios erros e encontrar soluções, como sou bom em solucionar
os problemas dos outros – aparentemente isso só funciona pra mim, mas ainda assim.
Pode parecer que eu sei bem o
que estou fazendo, mas não é bem por aí. Geralmente, eu só faço - depois é que penso
no que está acontecendo. Eu finjo bem, esse é o segredo - fake it until you
make it.
Mas eu preciso de um tempo da
minha vida. Preciso respirar até poder encarar tudo isso de novo. Estou exausto
desse mesmo ar quente e seco de sempre. Mudanças. É disso que preciso. Em relação
a tudo. Preciso mudar de casa, de cidade, de país e continente. Preciso mudar
meu jeito de levar as coisas, minhas prioridades, minhas roupas, meu corte de
cabelo.
Eu preciso mudar até me
redescobrir.
Ou talvez eu só precise de
chuva pra poder respirar melhor.
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