segunda-feira, 9 de julho de 2012

Tato

A primeira urgência: o prazer. Fazia um tempo, já. Era hora da satisfação. Será? Todos os pensamentos, todos os passos, os toques, até o roçar do tecido leve do short acariciando as coxas. Tudo era excitação.

Mesmo que a consciência lutasse contra, as mãos hesitantes, se guiando sozinhas no quarto escuro, acharam o seu caminho. Desceram pela rua do pecado e o encontraram. Um toque, um tremor. Desejo. Animal em seus instintos primitivos – imbatível. O coração batendo forte, o pensamento vagando por corpos perfeitos, por retas e curvas nas medidas certas. Homens. Pele e pelos. Nus. No pensamento e na cama, se contemplavam.

As mãos – malditas mãos! -, mais uma vez fizeram o que queriam – elas e a urgência -, e encontraram o lençol, encolhido no canto. Uma volta, um nó. Era selvagem, era excitante, era o máximo. Estava no filme. Parecia bom. Não custa tentar. A dificuldade de respirar ia aumentando à medida que se aproximava da hora final, da satisfação, do gozo.

Na cabeça, tudo se misturava. Imagens de todos aqueles corpos que um dia os olhos encontraram. Os atores, os desconhecidos, os do clube, aqueles da piscina ou do vestiário. Ah, o vestiário! Aqueles da academia, com os corpos suados. Suados como o dele, agora, nesse exercício de puro prazer. Tudo muito rápido, muito urgente. Flashes.

Só mais um pouco, vai. Falta ar, sobra excitação. As mãos agindo com mais segurança, mais força. O nó mais apertado. É agora. É a hora. Mais rápido. Mais forte. Para, tudo para. Um segundo ou uma eternidade. Lapso no tempo e no espaço.

Explosão. Alguns tiros.

Tudo o que resta de oxigênio abandona os pulmões num suspiro. Cai na cama. Lágrimas nos olhos. Porra!, o que foi que eu fiz? Não é assim que as coisas devem ser! Não é assim que... Luzes passeavam pela vista: pequenos pontos brilhantes dançando no ar. Ar. Tenta respirar. Não pode. As mãos cansadas, agora novamente sob o controle do homem, não do animal, alcançam o nó feito pra desatar facilmente. Não desata. O desespero dá sinal. Passeia pelo quarto, junto com os pontos de luz, dançando ao redor da cama com esse sorriso indecente. O corpo se debate sobre os lençóis agora molhados. Suor e sêmen.

A segunda urgência: a vida. Solta! Grita sem voz, sem ar. Mudo. O único som é o da briga abafada entre o corpo e o colchão. Tenta de tudo. Quer desatar o nó, rasgar o lençol, quebrar a cabeceira da cama. Não. Tudo muito bem feito. Excelente qualidade. Coisa de primeira!

As luzes somem e o desespero se enfia no peito, dividindo espaço com o coração que bate apertado e os pulmões que ardem sem ar. O corpo desiste da luta. Relaxa na cama molhada de sêmen, suor e saliva. Silêncio absoluto. O frio se aproxima e envolve o corpo. Olá, sabia que viria. Ela se senta ao pé da cama e observa o corpo nu, inerte. O admira na sua pureza. Na sua indecência. No seu arrependimento.

Tão novo. Tão pouco pelo que se arrepender. Tanto pelo que ainda viver. Achou que fazia a escolha errada, pensava que podia ser diferente e não viu o verdadeiro erro. Sabe, você podia ser feliz. Agora, vem comigo.

O pegou nos braços e saiu pela porta trancada. Passou pelos quartos em que pais e irmãos dormiam calmamente. Saiu pela rua caminhando sob a luz da lua. Finalmente ele estava livre do seu próprio nó. Ao menos a parte que importava. E só precisou do toque das mãos.


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