A primeira urgência: o prazer. Fazia um tempo, já. Era hora da
satisfação. Será? Todos os pensamentos, todos os passos, os toques, até o roçar
do tecido leve do short acariciando as coxas. Tudo era excitação.
Mesmo que a consciência lutasse contra, as mãos hesitantes, se guiando sozinhas no quarto escuro, acharam o seu caminho. Desceram pela rua do pecado e o encontraram. Um toque, um tremor. Desejo. Animal em seus instintos primitivos – imbatível. O coração batendo forte, o pensamento vagando por corpos perfeitos, por retas e curvas nas medidas certas. Homens. Pele e pelos. Nus. No pensamento e na cama, se contemplavam.
As mãos – malditas mãos! -, mais uma vez
fizeram o que queriam – elas e a urgência -, e encontraram o lençol, encolhido
no canto. Uma volta, um nó. Era selvagem, era excitante, era o máximo. Estava
no filme. Parecia bom. Não custa tentar. A dificuldade de respirar ia
aumentando à medida que se aproximava da hora final, da satisfação, do gozo.
Na cabeça, tudo se misturava. Imagens de
todos aqueles corpos que um dia os olhos encontraram. Os atores, os
desconhecidos, os do clube, aqueles da piscina ou do vestiário. Ah, o
vestiário! Aqueles da academia, com os corpos suados. Suados como o dele,
agora, nesse exercício de puro prazer. Tudo muito rápido, muito urgente.
Flashes.
Só mais um pouco, vai. Falta ar, sobra
excitação. As mãos agindo com mais segurança, mais força. O nó mais apertado. É
agora. É a hora. Mais rápido. Mais forte. Para, tudo para. Um segundo ou uma
eternidade. Lapso no tempo e no espaço.
Explosão. Alguns tiros.
Tudo o que resta de oxigênio abandona os
pulmões num suspiro. Cai na cama. Lágrimas nos olhos. Porra!, o que foi que eu
fiz? Não é assim que as coisas devem ser! Não é assim que... Luzes passeavam
pela vista: pequenos pontos brilhantes dançando no ar. Ar. Tenta respirar. Não
pode. As mãos cansadas, agora novamente sob o controle do homem, não do animal,
alcançam o nó feito pra desatar facilmente. Não desata. O desespero dá sinal.
Passeia pelo quarto, junto com os pontos de luz, dançando
ao redor da cama com esse sorriso indecente. O corpo se debate sobre os lençóis
agora molhados. Suor e sêmen.
A segunda urgência: a vida. Solta! Grita
sem voz, sem ar. Mudo. O único som é o da briga abafada entre o corpo e o
colchão. Tenta de tudo. Quer desatar o nó, rasgar o lençol, quebrar a cabeceira
da cama. Não. Tudo muito bem feito. Excelente qualidade. Coisa de primeira!
As luzes somem e o desespero se enfia no
peito, dividindo espaço com o coração que bate apertado e os pulmões que ardem sem
ar. O corpo desiste da luta. Relaxa na cama molhada de sêmen, suor e saliva.
Silêncio absoluto. O frio se aproxima e envolve o corpo. Olá, sabia que viria.
Ela se senta ao pé da cama e observa o corpo nu, inerte. O admira na sua
pureza. Na sua indecência. No seu arrependimento.
Tão novo. Tão pouco pelo que se
arrepender. Tanto pelo que ainda viver. Achou que fazia a escolha errada,
pensava que podia ser diferente e não viu o verdadeiro erro. Sabe, você podia
ser feliz. Agora, vem comigo.
O pegou nos braços e saiu pela porta
trancada. Passou pelos quartos em que pais e irmãos dormiam calmamente. Saiu
pela rua caminhando sob a luz da lua. Finalmente ele estava livre do seu
próprio nó. Ao menos a parte que importava. E só precisou do toque das mãos.
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